quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O silêncio forte

Pobres hominidios isolados
Pois nos campos largos
sofrem abarcados
e nós, embriagados
na luta inóspita
vagamos madrugada.

E de cada cansaço, o tédio
 e de cada alegria, volátil
E de cada volante amável
um amor inculto.

Pois a superficialidade extendida
cai na beleza impura;

E na cadeia acontecida de acontecimentos
 o vento forte sopra com sentido,
derrubando todo sentimento consentido,
ressentimento

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Búzios

Voa a gaivota,
Esconde o passado presente no mar,
meu instinto covarde, medroso.
Medroso de tudo que é tempo,
medroso de tudo todo tempo;

E o tempo, chama pra dancar o saci
ou a rosa espinho presa ao chão.

Mas no nublado céu a gaivota voa,
Entre nuvens pesadas de chuva,
Planejando no imperfeito pretérito
um futuro perfeito.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

outono

A triste noite chora,
água turva, revolta,
e grandes estrondos no céu.
Forma-se um mar de lágrimas.

Ponta de pedra fere,
sinto o sentir agudo da falta.

Vivo no avesso do tempo,
 como uma concha no mar de dentro.

As árvores perdem as folhas,
eu, perco sono,
sinto frio.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Tuclin


Telhados cor de rosa cobriam as casas na cidade de Tuclin. Meninas passavam de vestidos coloridos e os meninos não saiam de casa sem engraxar os sapatos. Pela manha, a nevoa encobria os campos floridos que com o forte perfume jasmim não se sabia céu ou terra. A única igreja da cidade construída por monges do seculo XX ecoava delicadas badaladas, toques celestiais de um universo chamado paz.

As ruas de azulejo não suportavam o peso dos carros, considerado armas naquela cidade onde o som mais alto produzido era o zumbido de um pernilongo fêmea, ultima sobrevivente da espécie desde a revolução da faxina ocorrida em 1987, data de fundação da cidade. Desde então, Gromecume instalou a ditadura e proibiu que se produzisse qualquer espécie de barulho acima de 20 decibeis.

Foi ate meados  do século XX a região ocupada por densa mata e aos poucos um buraco foi se abrindo, formando o espaço que mais tarde denominou-se Tuclin. Um povoado ocupou a área por mais de trinta anos antes do golpe de Gromecume. Eram os mametutti, uma tribo de hippies provenientes da Itália. Alegres e falantes, os mametutti previram os resultados do exacerbado sentimento nacionalista dos italianos e a muito custo juntaram suas economias partindo rumo a America do Sul.

No ano em que Mussolini tomou o poder os mametutti, que ainda eram apenas famílias italianas recém convertidas ao anarquismo, chegaram a São Paulo em plena semana de arte moderna. Viveram algumas décadas encinzentados planejando no imperfeito pretérito um futuro perfeito.

Enfim, por volta de 1950, não se sabe ao certo, o grupo chegou a um pedaço do paraíso mata atlântica. Construíram suas casas de madeira próximas a um rio. A partir deste momento pouco sabemos sobre a cultura mametutti. Gromecume fez questão de apagar toda e qualquer marca. Algumas deduções foram feitas através de vestígios encontrados de escavações e fragmentos postais enviados por um mametutti que anualmente percorria quilômetros ate a cidade mais proxima para mandar noticias a Itália. Destas cartas restaram apenas uma ou duas, pois com forte represaria facista eram frequentemente atiradas ao fogo.

Alem das cartas, relatos de homens do mato também foram considerados, apesar de suas inventividades muitas vezes interferirem na veracidade dos fatos. Sabe-se que a musica era de extrema importância na cultura da tribo e constituía grande parte do ritual efetuado a cada por do sol. Resquicios de instrumentos musicais foram achados sob o frio azulejo de Tuclin e remontados.

O mais intrigante foi  um traste de ébano acoplado a uma caixa acústica também de madeira  e fios que descobriu-se ser da teia de raríssima arranha somente encontrada na Austrália. Sua sonoridade assemelhava-se ao canto de uma cigarra, porem devido a fragilidade das cordas com um volume muito inferior. Na lenda dos matutos o instrumento era usado para ser uma espécie de afinador, organizando o canto das cigarras.



Precisos são os fatos narrados pelos tuclinenses. Com enorme vaidade esses cidadãos escreveram uma biblioteca de textos históricos sobre a revolução da faxina e ninguém mais pode entrar ou sair da pequena cidade. Os mantimentos passaram a serem trazidos por moradores de cidades vizinhas que trocavam seus produtos por perfumes de Tuclin. As trocas eram feitas por mínima janela existente no infinito do muro que a cercava.

O perfume de jasmim era o único produto de fabricação permitida na cidade. Envolta em flores, aparentemente paradisíaca, mostrava na essência dessas flores sérios problemas na saúde de seus moradores. A colheita era feita nas primeiras horas da manha e antes do anoitecer o perfume já estava pronto, momento esse  em que pessoas que começavam  a se comportar estranhamente. Diz-se que certo dia por algum motivo técnico não se produziu o perfume e isso causou tamanha ansiedade na população que não se parava de  comer.

Nos primeiros anos de governo, apos exterminar por completo a cultura mametutti, Gromecume escravizou homens e mulheres para construir o gigantesco muro de Tuclin.  As casas de plástico, as ruas de azulejo e desmatar o restante da floresta para a plantação de jasmim.

Os preceitos básicos do novo regime eram a limpeza e o silencio. Milhares de produtos de limpeza foram encontrados. Todas as casas eram diariamente inspecionadas. Logo depois de implantado o sistema muitas famílias ainda não haviam adquirido suficiente experiência na faxina da casa e sofriam punicoes.

A medida que enquadravam-se a nova vida em Tuclin a população foi crescendo, crescendo, ate o limiar do muro. Não havia mais espaço para o jasmim.

sábado, 23 de julho de 2011

Sonho de menina


            Sonho de menina

A tarde já se ia, quando Silvia pegou sua mochila esverdeada e fugiu pelos fundos do colégio. Os últimos raios de sol ofuscavam os olhos da triste criança. Seu rosto estava pálido e sem vida. Com passos apressados, ela atravessou o pequeno riacho que corria próximo ao colégio de irmãs. O calor sugava-lhe água da nuca aos pés.
            Silvia havia sonhado com o parque de diversões. Não sabia bem por que deveria ir até lá, mas quando o relógio bateu duas horas, uma súbita preocupação ocupou-lhe a alma e a menina não teve escolha.

                                                            ***
             A primeira grande praça que precisou atravessar tinha muitas árvores. O lugar era uma floresta. O vento soprava forte e provocava assobios apavorantes. Ao longe, vozes a amedrontavam fazendo do passeio quase que uma sina.O caminho para o parque nunca lhe parecera tão longe quanto naquela tarde. Silvia fugiu correndo daquele lugar e das vozes que aumentavam à medida que caminhava para o interior.

                                                            ***
 Chegando ao limite da praça com a rua atravessou no sinal. Cambaleava de cansaço e de sede. No início da segunda praça havia uma fonte de águas claras. Curiosa, Silvia observou que dentro da fonte havia milhares de peixinhos dourados que nadavam freneticamente  formando desenhos cintilantes. Apesar de já ter realizado o mesmo trajeto algumas dezenas de vezes, nunca tinha visto aquela fonte. Deslumbrada com os peixes, ela ficou algum tempo paralisada, pensando que deveria ser algum tipo de ilusão de ótica. Mas logo resolveu abaixar-se e provar aquilo que a fonte tinha a lhe oferecer. Mergulhou seus finos dedinhos, e aproximando os lábios, bebeu da mais pura água. O líquido descia como um remédio milagroso, aliviando todas as suas dores e medos. Até que um homenzinho aproximou-se e disse:
- Você é uma criança muito corajosa!
Silvia virou-se indignada e respondeu:
- Eu não sou criança! E estou morrendo de medo...finalizou com a famosa voz pra dentro que costumava usar nos momentos de insegurança.
A esquisita figura retrucou com um sorriso misterioso:
- Então precisa criar coragem, querida. Quem chega até aqui precisa seguir até o final, ou se perde para sempre na praça deserta.
O anão deu um risinho e desapareceu.

                                                ***
Pesadas lágrimas caíam dos olhos de Silvinha, que se viu perdida num enorme deserto. Confusa diante de tantas maluquices, a menina mal teve tempo de refletir sobre o encontro inusitado com aquele estranho indivíduo. E disse para si mesma num tom perseverante:
-Agora vou ter que me encontrar sozinha.
A pobre menina seguiu com os olhos ainda turvos.



                                                            ***
Nos primeiros passos rumo ao interior do deserto uma lembrança lhe ocorreu.
Era natal, e seu avô dizia:
- Silvinha, esse vestido amarelo eu comprei pra você brincar no quintal deserto.Como aqueles pintinhos que voam fazendo festa.Tá vendo, Silvinha?Tá vendo?
Cansada de tanto andar, Silvinha pára e percebe que vestia o mesmo vestido que havia ganhado de seu avô naquele natal. Sentada, ela começa a pensar na sua família, nos amigos... E tem a estranha impressão de que nunca mais irá vê-los, ou pelo menos não da mesma maneira.

                                                            ***
             Um frio na espinha a intimida e faz parar sua jornada. Deitada na praça, o vento acaricia-lhe o rosto e os finos grãos de areia brincam de lhe fazer cócegas. Subitamente, os raios alaranjados do sol parecem afastar-se de sua vista, ganhando mais e mais dimensão. Laranja, lilás, azul, muito azul, amarelo e roxo era tudo o que a interessava naquele momento da mais pura alegria. A lembrança do anão e da fonte trazia a água para seu pensamento. Silvia percebe seus movimentos como uma grande brincadeira. As bonecas não lhe atraem mais. Ela é a boneca e não mais uma marionete. 

                                                            ***
Pulando e dançando, rapidamente Silvia chegou ao parque. Um pouco tonta, sem saber o que estava fazendo ali e nem como havia chegado, viu-se diante de crianças, barulhos, brinquedos, comidas e as mais diferentes atrações que um parque pode proporcionar. Mas tudo rodava ao seu redor. Criança, adulto, montanha russa, algodão doce...Tudo lhe parecia um grande amontoado de cores e sensações. Trôpega e sem forças a menina vagarosamente cai sobre o chão quente do parque de diversões.

           
                                                            ***           

-Silvinha! chama seu pai com uma voz doce e suave.
Inundada de suor, rapidamente embrulha-se no lençol cor-de-rosa. Percebe que está em casa, nua. O rosa envolve o calor do corpo num abraço protegido.

                                                ***

Vagarosamente a porta abre. Passos lentos se aproximam. Ouve-se um breve estalo, resultado dos lábios do pai e da testa da filha. Novamente os passos. A porta se fecha. Uma gota de saliva e suor escorre da testa pelas bochechas rosadas, passa pelo ombro, pelos seios já crescidos, barriga, perna, pé e chão.
Ela olha pela janela e constata:
- O céu e azul.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Retrato do caos

Na verdade ele era azul. Pular, falar, brincar, ralhar, num parque de para que porque. De que maneira se pode ser elefante sem dar cambalhotas no ar? Orangiatas de fanta requerem novbreza ovovov russiosos e sotaques baianos. Mistura falante,  falando falas faladas, para o mundo errante. Grande  gigante de cobras devoradoras de insetos gosmentos cheios de afetos guardados. Farelos de ganhdi e Bim laden, pelo nome de combate. O ser que sai dela nada é. Mas algo de bom que se possa aproveitar na verdade acho que o mínimo de pensamento tem que se ter. Pelo menos para que a relação não se torne mormente PALAVRAL.

Ligações palavrais são tristes por demais. Exalam afeto fugidio de carinho. Longe do mundo real.  Longe do mundo fantástico da palavra que é real. Como  botão, caneta, papel, documento. O que não podemos pegar também é real podemos ver ou ouvir. Tudo que podemos sentir é real. E aquilo que sentimos diferente como se explica? De vez em quando eu brinco de vestir amarelo cor de ovo. Não sou gema sou clara, mas acho que gema é meu meio do céu.
***
As manchas pretas da consciência parecem esgotos imundos, cheios de ratos, baratas, gomas, vermes. Mas vista de perto é apenas casca de ferida. Casca que está suja de terra. Casca que na realidade é branca. Casca do ovo em que me encontro.

Perder completamente o sentido não significa ficar boiando no espaço vazio. Não acho que é ruim perder o sentido em busca de um novo. Mas é o buscar que assusta! Não é amedrontador  a tempestade numa pequena balsa de madeira? Parecendo de inox, mas se de aço fosse afundava que nem barra de ferro.

 Da Barra tenho retrato de escola, palavras, curso musica, memória de casa, carinho de amigo, segredos de barba, espeto de pai, casamento de mãe, aconchego de cachorro, vaca morta, de passarinho voando. Em Teresópolis queria eu voar também. Para longe da família, terra distante.

 Solidão a dez com a mata não é solidão. Ou melhor, é solidão de gente . Muito melhor que solidão de bicho, que passa a acreditar que bosta  somos de noite no apartamento apertado do ventre aconchegado. A maneira de gostar é que muda. Como o mundo gira, na terra, ficando de pernas pro ar!
***
INSTANtaneidade de  PENSAMENTO APARECE NA HORA DIRETA EM QUE ME MOVO PaRA O ESFORÇO DE COMUNICAR-ME. O QUE ESTÁ OCULTO APARECE SEM DARMOS ATENÇÃO. POR ISSO à tempestade sucede-se o salvamento. Pois atrás do rosto obscuro do caos as vezes encontramos a luz. TENTaNDO SER O MAIS BREVE POSSIVEL ACHo QUE ESTOU FALANDO AO COnTRÁRIo, POIS aNA VERDADE ESTOU ME ExTENDENDO AO MáXIMO. Sendo mulher em outras palavras.


Gosto de pular amarelinha, talvez daí tenha vindo a obsessão pela palavra amarelo ou será pela cor? Acho que  é a própria cor que me trás alegria. Gosto também de azul, mas na verdade sou verde, verde limão, mas estou mudando de cor. Não vejo muito bem, mas acho que estou virando lilás.

Já fui vermelha. Achei que tinha sido vermelha. Na verdade o vermelho dele refletia no branco do meu vestido e fazia parecer que o vermelho era meu. Tintas colorem o mundo , mas os sentimentos cada vez mais ocultos teimam em esconder-se. Ou será que tudo isso é maia. Pelo conteúdo destrutivo que estou elaborando. Destrutivo porque caótico ou caótico porque destrutivo?
***
 Afinal o destino não é uma couve flor crescendo por igual em todas as direções? Acho que  nesse caso temos que pular os muros para cima para fugir do destino. Mas será que o infinito não é a morte, dispersão total? Diz-se que a morte é o nada. Então é também o tudo. Subir significa ir contra as leis da física e portanto da gravidade... Como ficaria reduzida! Como uma música atonal, ou  um Wagner subindo pro além homem. A ponto de permitir que possamos pular para cima, ou seja flutuar, flutuar, e passar para a frente ki nem ki gente que não tem o que fazer.

 Saber do certo mas cometer o errado. Diuzem  que aqueles que freqüentam a igreja estão  todos na religião para que se possa dormir. Diuzem também que alguns nunca acordam. Para que saia espontaneamente material para a minha própria analise de mim que se acontece agora o meu despertar foi desorientado. Será que eu tinha religião e não sabia?
***
RelAXEi  MAIS que devia e quase caí. De PÉ no ÔnIBUS TUDO FICA AO COnTRÁRIo. DEPOIS AS COISAS VOLTAM PARA O LUGAR. TUDO SE NORMALIZA POEMa e  PENSAMeNTO. CONTINUa QUEM se MOVIMENTa. ASSIM COMO O RESTO DO CORPO QUE SEM EXERCICIO NÃO TERIa ACONSEGUIDO A VOZ DA EXPERIÊNCIA PÚBLICA. TALVEZ UM ESTáGIO QUE AFAgue  as GATAs melindrosas que não gostam de ouvir  histórias. DE MANEIRA QUE DORMIR SERIA UMA coisa Boa. Em todo caso não corro o risco. Arranjo MANEIRA DE SONHAR ACORDADA.

Talvez ESCREVENdO TEAtraLmente EU POSSA EU MESMA DAR AULA DIDÁTICA. QUE LEVE A GENTE PARA ALGUM LUGAR seguro do mau tempo. POrque TUDO MUDA RÁDIDO mas em MeNOS TEMpO QUE SUBIR PRA BAIXO. O ponto é CHEGAR ANTES DAS PASSAdas.

 SERÁ QUE DURANTE TODA Manhã de FRENTE AFRontei  Deus? Não. FIQUEI COM O ASTRO REI. SENTI-ME QUaSE QUE FADADa AO FRACAÇO. PORéM, SEMPRE ALGUMA FORÇA DIZVINA TENTAVA ME LEVANTAR E EU RESpodia Mortalmente que FALTA De UM GRAMADo, um PAO DE QUEIJO.  cURTi O QUE foi e o que será. Podemos continuar sendo hoje?


 PULei PRA CIMA Para EMBArCAR numa balsa florida o nada encontrei. GOTAMA COnSEGUE COntemPLETAR O CÍRCULO  E DEsENVOLVER A CAPACIDADE DE PASSAR O TEMPO BRINCANDO DE FAZER COISA SéRIA. As CRIANÇAS QUE QUEREM PARTICIPAR Aos POUCOS LEVANTARAM OS BRACINHOs. SINTO O SISTEMA NERVOSO NAS MÃOS frias e suadas. O NERVOSISMo DE PREOCUPAÇAÕ COM O ESCONDIDO QUE CAI. Ele existe claramente, porque sinto.

  IMAGINA QUE HOJE TEM FESTA DA cLARA QUE ESPERA A GEMA,QUE FICa lá NO OVO,QUE SAI EM FORMA DE PINTINHO DESNUTRIDo. PoIS  SOBRE ESTe SEMPRE PENde DEMAIS As CICATrIzes DO passado.
***
 TEMPO, TemPO, NOSSA CONtEmPLaÇÃO MUDOU RADICALMENTE.COM RELAÇÃO aquele QUE VIVIA A ATORMENTAR.Mas agora é só FANTASMA DE UMA   INFâNCIA EXTENDIDA. TODOS DIZIAM QUE É BOM SER CRIANÇA. DIZEM ISTO AQUELES QUE NÃO viram  o amanhecer do fim do ocaso. E que pairam sobre as águas, implorando perdão pela maneira como sempre depois de um certo tempo exigimos que a mãe escreva de volta. Muitos acham que por isso o pintinho desnutrido não adoeceu como os outros no transporte da charrete.

O que não está nítido está escondido. Portanto o escondido é estranho, mas não devemos duvidar tanto do escondido que causa dor de cabeça.

Um improviso sem fim viso eu com tantas malabarices e macaquices que não tem tamanho. Em TAMANHO E TAMaNHamente ESTRANHO tenho MEDO Do FIM DE TArDE QUE INALGURA QUalquer AROma de. HaBITAR O CORPO QUE MORA FORA DE REALiDaDe ALCANÇÁVEL.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Mágoa Dilatada



Singelas estrelas cadentes
Brilham para os olhos carentes
Refletindo em polida lente
Ofuscado medo latente

O orgulho que sustenta
o corpo cego,  pensamento
e a injustiça representa
no que há fora todo o dentro

Transformo o sim no não
O embora no então
Carregando sobre  os ombros
Alguma mágoa e solidão

Mas a cada sinestesia
Anestesia é para alma
Que faz da dor de cada dia
e o puro amor vivencia
a transformação em alegria
daquilo que antes corroia

quarta-feira, 2 de março de 2011

Encontros de Infancia

Era uma tarde chuvosa. Passos apressados conduziam a menina ao dentista. O dia estava quente. As poças e o casamento sol e chuva sopravam uma lembrança de viúva. 
Molhada, entrou na sala onde a espera seria longa. Meia hora passada  a aflição só crescia. O pai perguntou se estava preocupada; não é preocupação é medo. Mas medo não era vontade? E se vontade como tão masoquista? 

Idênticos, dois irmãos adentram o cenário junto a uma mulher. A manhã se ia e o frio do ar condicionado gelava veias e artérias pulsantes de pavor. Marcela obviamente pergunta, vocês são gêmeos? Rapidamente a mãe responde com um sorriso coruja e um balançar de cabeça encabulado; são. Um deles já havia arrancado os sisos inferiores, agora era a vez do outro. Marcela também esperava impaciente para a retirada dos dentes que não cabiam em sua arcada, mas diferente dos outros pacientes, uma pergunta inquieta não fugia de seus pensamentos. 

Marcela tinha trinta e dois dentes, via dois gêmeos na frente e tentava a qualquer custo desvendar o mistério daqueles estranhos ossos que nasciam. Se nasciam, porque não ter espaço? Ou será que a pergunta devia ser ao contrário. Se não tem espaço, porque nasciam?

Após longa espera a secretária chamou; a mocinha pode entrar. A calma teatral ocultava o frio na espinha e a raiva daquele que ia rasgar sua gengiva. Ela tinha constatado com seus próprios olhos a falta de espaço na radiografia, mas ainda achava que poderia criar espaço para eles.
Quando bebê era banguela
Quando criança ganhou 24 dentes 
Aos poucos foi perdendo esses e ganhando novos
Agora eram 28
E logo 32
Marcela resolveu que deixaria de lado os números. Deles já bastavam as conversas chatas dos adultos mal crescidos.

Deitada na cadeira via as cicatrizes da parede, ou seriam feridas de uma luta com a água do andar de cima? E o que teria em cima? Já isso também pouco importava.

Infiltrações lembravam o remedinho branco recém tomado. E o pensamento cessava, juntando remédio e luta. Dentro de suas elucubrações Marcela nem percebeu os sisos sendo extraídos. Sorridente o dentista mostrava seus dentes como se gabando de caça.

             A menina saiu da sala um pouco tonta, um pouco orgulhosa, um pouco mais leve. Ao sair  deparou-se com um amigo de infância. Constatou que também ela tivera um irmão gêmeo. Finalmente ou novamente os gêmeos. Idênticos eles mal podiam imaginar os sentimentos de marcela. Sensações de encontro de infância.        

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Batalha dos Rios


Menina levada, Silvia adorava subir em árvores. A cada tombo nova cicatriz era incorporada. Registrando aventuras. Mapas contando história.
                                    ***
Certo dia, cansada de se machucar, Silvia resolve criar só uma vida dela sozinha. Se tornar uma marca, uma cicatriz na história. Mergulhou no rio vermelho que corria próximo a sua casa. Nadando, nadando, foi vivendo no aconchego do calor das águas avermelhadas.
                                                ***
Em paralelo havia um segundo rio, onde calmamente brincava um menino branco. Silvio seu nome era. Cada um seguia seu caminho, e de tempos em tempos os dois podiam se ver. Os rápidos encontros ocorriam de quatro em quatro anos e alimentavam suas delicadas alminhas de tal forma que nem percebiam a tristeza de viver só, em uma cor.
                                    ***
Num dia Certo, Silvia deparou-se com um rio vermelho como o dela. Sem pensar duas vezes misturou-se, cresceu em diagonalmente oposta. As águas voluptuosas de Silvia carinhosamente abraçaram o calor de novas águas ensolaradas e o rio mudou seu percurso.
                                    ***
Silvio ficou só. Assustado com o desaparecimento de sua amada resolve dividir cada uma das suas micro-partículas. Quem sabe ganhando volume ele poderia rever Silvia. Então, todo o dia 29 de fevereiro, o branco rio crescia. Ele vigiava Ela.
                                    ***
Até que uma imensa pedra surgiu no caminho do fluxo vermelho. Era pedra, teve assim de retornar ao curso antigo. Silvia perdeu-se por completo do sol que coloria com amarelo a superfície do rio formando uma espécie de crosta alaranjada.
                                    ***
Foi numa noite escura. O rio branco de amargura vioô...lento lança-se sobre o vermelho iniciando uma batalha devastadora.
                                    ***
             Sem mais nem porque Silvio recorda-se do amor que os levou ao inicio da guerra. Ela também estava errada, quando um não quer dois não brigam. Quieto ele fez-se gandhianamente embranquecido. Estava clara, é claro! A batalha era só de um lado.
                                                ***
            Pouco a pouso o ódio avermelhado de Silvia passou a embaraço... De abraço em embaraço, vermelho e branco foi rosa virando. Tornando-se lembrança e consciência de grande pedra que era rocha dilatada, concentração de tempos no ritmo do nada. Mas parando tudo nada.
                                                ***
Voltando a si, ainda rosados, Silvia e Silvio relembram seus tempos de criança. As brigas eram intermináveis. Juntos, infinitamente tentavam recordar o dia em que a batalha tornara-se real, rios riram. Ririam, logo rio.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Recontando estórias, vi um caminho surgir por entre troncos. Caminhos cobertos por água manhã, tamanha sede papel. Tristes momentos, ou flashes rápidos de luzes coloridas. Arco-iris de pérolas pelo caminho céu. Na terra, uma escrita impressionista. Sedenta de imagens, viagens delirantes de borboletas amarelas, que sem perceber que são vigiadas voam do estrume do boi ao mais alto do azul céu. Por entre flores violetas nascem árvores, verdes verdades e frutos vermelhos, e tudo, tudo, resultado de exploções vitais.