quarta-feira, 17 de julho de 2013

maior que o tudo - relâmpago capítulo 5


Maior que o tudo

Ele viu a dor através de seus olhos flamejantes, que vertiam pelo pensamento de perda e reluziam em tons de esperança depois do dito, redito e repetido, o melhor para Nina. O afastamento. Lagrimejava, e forte e firme confirmou que um dia encontraria alguém que fosse melhor para ela e lhe traria paz no amor infinito e duradouro. Pela primeira vez depois de anos ela aceitou o que diziam, as palavras brotavam da boca dele e nada mais verdadeiro do que isso podia ouvir. Virou-se para sua vida em construção e arrumou as malas para a viagem. Não sabia até quando iria estar fora, não sabia quem encontraria no percurso, não sabia mais que um adeus desordenado e incerto. 
Não era a toa que a potência de sua intensidade se encontrava a níveis tão obtusos e exagerados. Não era a toa que vertia as vistas para a falta de um todo maior que o tudo. Não era a toa que em dia tão ensolarado em uma sala com ar condicionado ouvisse a barbaridade mais ampla que a trazia de volta para a vida, para o desejo e a esperança. Numa tarde de sol, de uma singularidade tão sem igual e um discurso tão repleto de modernidade, poesia e a subjetividade concreta do corpo. Vertia o quântico para a quantidade infinita de animosidade e o que via eram sonhos, eram flutuações cômicas de uma tragédia particular. 



sexta-feira, 5 de julho de 2013

diástole

Ela disse: e aí?
Eu disse: não sei...
Ele disse: acabou.
Eu disse: entendi.
Ela disse: Como assim? Como você pode desistir assim, depois de tanto amor?
Eu disse: Pois é, como posso contestar depois de tanto?
Ela calou-se resignada e eu sorri, ainda sentindo.

sinceras desculpas- relâmpago cap.4



Sinceras Desculpas

Mari desligou o telefone tendo acertando com Nina uma consulta com um psiquiatra que costumava atendê-la. Seu argumento foi baseado em uma conversa que as duas tinham tido em sua casa. Falou antes com sua mãe que era médica e que recomendou que ela como irmã de coração marcasse a  consulta para Nina. 
Chegando no consultório foi bem recebida e precisou esperar alguns minutos na sala de espera onde leu uma revista sobre comidas naturais que a interessou. O Dr. lhe pareceu um pouco frio, aflito, afoito e pouco experiente em atender a amiga da paciente. 
Ele lhe deu duas semanas para por a cabeça no lugar e contar toda a história de forma compreensível. Nina achou um tremendo absurdo ter que explicar a história sem saber do que estava sendo acusada. Tentou se lembrar dos últimos acontecimentos e se lembrou que havia contado o dia em que ficara bêbada numa festa. Não imaginava que isso pudesse causar tamanho problema, afinal tinha explicado a situação ruim que estava vivendo em casa com o fim de um relacionamento importante, e os amigos que tentavam ajuda-la e se diziam apaixonados ou exigiam hegemonia em seu coração. Ela precisava de um afastamento disso tudo e queria ficar lá na cidade onde Mari morava e sentiu no momento em que contou tudo isso que deveria dar um exemplo do que acontecia para o exílio em outro estado. Talvez tivesse perto demais de casa, pensou. E assim que o médico confirmou uma medicação que Nina não queria mais tomar tentou pensar em ir mais longe para outro lugar, mas não tinha coragem de seguir seu rumo sem avisos, principalmente pela sua dependência afetiva e financeira que naquele momento a impedia de ter autonomia. 
Nina entendeu que seu ciúme do namorado tinha ido longe demais e que não tinha razão para ainda afirmar o amor reciproco dos dois. Mas e ela? Ela estava sozinha e todos se preocupavam com ele, mas Nina ainda se sentia amada quando seguia seu caminho. A ambigüidade se instaurou de tal forma que ela não podia prosseguir. De um lado queriam ensiná-la a não sentir tanto ciúme, de outro não queriam deixá-la seguir um caminho deixando para trás relações afetivas que no presente existiam em memória. 
Certamente parecia que o caminho tinha a ver com ele, mas naquela altura tudo tinha mais a ver com ele do que com ela e não fazer o que quer e sonha era algo castrador. Nina sabia que   tudo aquilo também tinha a ver com ela e se não fosse seus ímpetos de movimentação nem ela nem ele iriam progredir. Pesava nos ombros dela a responsabilidade pela felicidade dos dois, juntos ou separados.
Sentia gratidão, mas seu corpo se cansava com facilidade ao perceber o tamanho do peso nas costas que carregava por não ter conseguido conviver harmoniosamente com o namorado e o mundo ao redor. Parecia sentir e entregar tudo a ele, enquanto seu vazio interior crescia. Nina queria pedir desculpa, mas achava que seus limites tinham passado da conta, tanto em seus pensamentos quanto no dos outros com relação a ela, e esse sistema ruim se retro-alimentava. Nina queria desaparecer. 
Sonhava com sua infância. Lembrava do dia em que seu primeiro dente da frente caiu. O dia era lindo e o dente trazia grandes esperanças. Sua mãe havia dito que a fada iria busca-lo debaixo do travesseiro. E foi assim que fez. Colocou o dente debaixo do travesseiro ao deitar e sonhou o sonho mais lindo que pode, como tentava fazer agora no transe de sua incapacidade momentânea. 

sábado, 1 de junho de 2013

Vida dupla- Relâmpago 3



Nina escreveu num pedaço de papel: " Em algum lugar, longe desses malditos ruídos e interpretações tão sem amor, iremos nos encontrar e mesmo que esse lugar seja o recôncavo mais remoto da imaginação ou a sensação mais dormente da memória irei estar contigo. E sonhar com consciência a ciência do amor, aonde não há lugar nem tempo, apenas a verdadeira face do que pulsa nos corações."
Desde que Nina havia se acomodado naquele quarto, uma enorme quantidade de repreensões fazia a si mesma. Apesar disso, era com determinação e covardia que se apegava as razões caducadas da infância.  Certamente havia muito mais o que descobrir. 
O céu estava estrelado e tinha uma enorme lua no céu. Flávio enviou uma mensagem longa, descrevendo cada detalhe do céu que via para Nina. Ele dizia que gostaria muito que ela estivesse com ele e que aquele céu que via era uma impressão exata do que sentia naquele momento melancólico e singelo, além de muito simples e claro, como estava ele, tão certo de seu amor e suas tristezas. "Que cara romântico", Maia disse, e Nina limitou-se a balançar leve sua cabeça e concordar. No fundo ela achava muito amor e pôde se ver através dele em seu momento exagerado meses antes. Eram dias em que tudo parecia grande e a enormidade da vida se pautava em uma só pessoa. E essa pessoa agora era ela, não soube o que responder e deu uma de terapeuta sem causa. Ou talvez tivesse muita razão para que ela fizesse ele voltar daquela paixão sem limites. Encarou a situação.
Voltou-se para ele e disse que se conheciam a pouco tempo e não tinham ainda tanto saber um do outro para gostarem-se dessa forma, o que de todo estava certa, e precisou de coragem para dizê-lo uma vez que haviam apostado fichas no casal. Nesse momento, Nina estabeleceu limite, e assim, preservando sua identidade seguiu com as aulas e os estudos e seus sonhos, que não eram poucos, mas dispersos e talvez pouco tangíveis com o que se dizia ser ela em tempos passados. 
Maia, como voz de sabedoria, achava que mudança era aos poucos, mas Nina sabia bem que para atingir de todo a forma com que gostaria de levar a vida precisava de saltos grandes e levantou firme revelando que para ela não havia duplicidade, mas cogitações e que seguindo seu coração não deveria ser interposta por ninguém querendo respostas falsas e definitivas.
Nina não conseguia aceitar que dissessem ser o amigo o namorado e o namorado o amigo, se não era namorado o seu grande amor queria viver a tristeza até o limite, até que seu coração voltasse a se interessar a luz da compreensão, e naquele momento, Nina não conseguia entender o que faziam com a vida dela e das tantas proibições que se davam sucintamente através de palavras atravessadas e fantasias especulares. 
A essência do discernimento constava em acertar cara e coroa, mas Nina sabia que o lado de dentro, dos seus batimentos, dos seus sentidos, abduzia sua vida a uma duplicidade sem sentido. O que era ela naquele momento, se não uma  profusão de verdades, uma invasão de pensamentos que exigiam e lutavam por distância. Não havia realidade se não que seu coração tinha um dono. E esse não era dono dela, mas do que sentia, do que queria e não tinha mais forças para lutar a favor. Queria viver mais do que tudo, e mesmo que o tempo demandasse espaço e o espaço demandasse tempo, o tempo trazia o vazio e o vazio trazia a paz do paraíso da qual era tirada constantemente pela incerta escolha do arbítrio. 
Quando chegou em casa depois da aula encontrou malas prontas na sala. Maia fazia os últimos acertos pelo telefone de como seria a viagem a Paris, combinava com o amigo que ficaria na casa dele depois seguiria para  o interior.  
Maia partiu e Nina ficou em casa sozinha. De seu quarto podia ver a tempestade. Um relâmpago no negro céu. Uma chuva grossa que abrandava as vezes, no intervalo das trovoadas. Os rugidos do céu, a fantástica aventura do planeta terra que se sucedia em tormentas. O grave barulho das nuvens carregadas e seguido de estouros, estrondos, instrumentos da natureza.


sexta-feira, 3 de maio de 2013

relâmpago-cap2


Longe de casa

Desde que chegara sentia um certo alívio com a solidão que estava proporcionando a si mesma. Estava tão aflita com a quantidade enorme de problemas que vinham de todos os lados e  de repente estar em um lugar distante e tão diferente de sua casa lhe confortava a tal ponto que a diferença entre o conforto de casa e aquele pequeno quarto que alugara pouco importava, pois as sutilezas da alma transbordavam poesia, amargura, tristezas e alegrias em intensidade. 
Enquanto preparava o jantar, o noticiário seguia mostrando cenas de violência. Acontecia uma guerra nos morros do Rio e policiais subiam com suas metralhadoras atrás dos bandidos para acabar com o tráfico. Nina ouvia aflita e desnorteada, de certa forma como se ela pudesse fazer algo para impedir a guerra. De fato não podia. E quanto mais se dizia isso, mais sentia que também era responsável pelo que estava acontecendo, e sem ter o que fazer, sentia seus sonhos se desmancharem,  e preocupações tomaram conta de sua vida de tal modo que não conseguia prosseguir. Terminou de jantar e pôs o prato na pia, lavou a louça, desligou a televisão e foi dormir, como mais uma pessoa revoltada com os acontecimentos do mundo revelados no noticiário. 
O dia amanheceu em paz, pouco se ouvia dos ruídos paranóicos de dias anteriores. Ela levantou, foi até o banheiro e viu o sangue descendo entre suas pernas pingar  na água da privada,  se limpou com o papel higiênico com uma sensação de perda que a fazia se emocionar e desejar a solidão, contrariamente ao que sonhava ou entendia ser a vontade suprema, a procriação. 
Os dias transcorriam e a reputação de Nina não estava boa. Apressadamente ela estudava e se esforçava para valer a pena, mas o esforço que fazia tornou-se maior com o passar dos dias. As pequenas tarefas de comer e tomar banho ganharam um valor tão grande que o estudo tornara-se futilidade embora estivesse impossibilitada de arranjar um emprego em qualquer setor. Aquele desarranjo de si mesma estava a ponto de destruir não apenas a subjetividade amorosa, mas também suas vontades necessárias. 
Nina sentou na mesa aonde costumava estudar e enquanto arrumava o material da faculdade viu sobre a mesa uma joaninha. Dizem que este pequeno inseto traz sorte e tentou interpretar o fato de ter encontrado a joaninha e da peculiaridade daquela em específico que era cinza. Sim, era uma joaninha cinza, com bolinhas pretas, como de costume. Pensou o que podia representar isso e tirou uma foto para marcar aquele encontro inesperado. Quis perguntar para ela, mas se viu impossibilitada de falar com um inseto e achou pouco provável que obteria resposta. Mais tarde veio a ler um romance em que um homem conversava com um sapo e o extenso diálogo que obteve pôde muito bem ser transposto para esse momento. Sendo assim Nina disse:
- Muito bem, você é uma Joaninha, isso eu sei, mas que eu tenha conhecido todas de sua espécie são vermelhas, porque você aparece aqui cinza?
E ela respondeu que hermeneuticamente eu poderia entender, e pelo que constava, Nina estava analisada e apta para entender que correspondências haveriam em suas memórias e a joaninha cinza.
-Nina, ela disse, com tanta história você não acha que pode abstrair um pouco o fato de todos os cisnes serem brancos ou todos os baicons provirem da morte de um porco?"
Nina refletiu por um instante e disse "eu sempre soube"e ela riu. Se foi a Joaninha ou a Nina que riu não se sabe ao certo, mas cabe lembrar que certo dia, sendo interrogada ainda muito criança, havia dito "essa cor é cinza". E essa primeira identificação havia sido legal, como uma joaninha cinza, na cor do esquecimento daquele dia que agora Nina zombava, em que ficara triste com a rejeição de uma menina, que não era ela, mas se chamava Joana e tinha brincos de ouro e pérola.
Nina passou a foto para o computador e usou como fundo de tela. Sempre se lembrava que um dia encontrou a joaninha cinza e com a sorte de ter lembrado o valor do esquecimento para o decorrer da memória. 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

relâmpago-cap 1





Sala de Espera

O momento presente abrangia tempos diversos. E quando se falava em desprezo, desespero e receio, era o desrespeito que atingia o orgasmo.
A rapidez do instante provocava as pequenas mortes das entranhas que não cabia tempo para elaborar seu discurso, como poréns das considerações passadas. Mas como ele continuava, ela não tinha a fluidez necessária para contar cada história, mas sim todas ao mesmo tempo como uma só.
Assim começou o outono que se passava anteriormente nos verões quentes do rio de janeiro. Enquanto a ordem seguia em desastrosos acontecimentos, os corações clamavam pela paz e condenavam a poucos. Aqueles que certamente sentiam muito e se torturavam em torturas adventícias.
Tanta nobreza visava retirar os porém, porque assim poderia desenvolver seu próprio estado, como modo de ser ou estado de espírito, mas como a vida requer equilíbrio o porém permanecia a falar-lhe ao ouvido. E a intrometer-se no que também lhe concernia.
Calava-se ante a ausência de sentido, e a angústia dos corações traumatizados significavam em prol da justiça. 

O tumulto crescia ante a repercussão das tragédias acometidas como sempre, e  pelo poder das palavras, sua força simulava uma  provocação inferida pela sugestão arredia do estar próximo.
Assim começava o texto:

"Trágico momento aquele, em que dizia sob pena de morte, a verdade que faltava ser revelada. Quando a torrente de ilusões me conduziu ao abandono de mim mesmo e cessaram as lágrimas que corriam em meu coração, entregando tudo a você, claramente, como o livro que lhe foi entregue aos quinze anos, comprado no mercado daquele vilarejo. E quando foste embora, fiquei sozinho, a preencher os vazios mórbidos da existência humana. Para que te acalmasse e segurasse firme em minhas mãos, estendidas e abertas a você, o anjo do coração, da retina e da pálpebra. Para que no obscuro, buscasse sua luz própria, a fim de regar o jardim da inocência.
Aclamaste a ti e ao senhor todo poderoso para que me protegestes, enquanto acordada sonhavas sozinha o que ainda penso de tudo e nós dois.
Porque ficaste tão triste, eu não sei ainda dizer, mas penso que tão voraz e sucintamente expressaste o pânico da sobrevivência. Não apenas nos dados fatídicos da emoção, mas do corpo todo, contornando cada delírio de febre que senti ao seu estar. 
Por isso, acalma-te e preste atenção. Quando vires o que é certo o teu coração dirá e sem necessitar palavra poderá falar-lhe ao coração."

Ele transcreveu a carta e guardou no bolso para eventuais desencontros. Desenrolou o papel naquele dia de outono, e sem anotar a punho no papel decorou o texto que havia em mãos.
Seria esta a base do discurso com a arrogância absoluta da veracidade de suas emoções pela jovem aluna, que sentada na sala de espera reencontrava outros alunos da escola que passavam pelo corredor contentes e descontentes com seus resultados. E no auge de sua atuação romântica e delinqüente transmitia sua mais secreta intimidade e ganância.    
Nina retratava a languidez de uma íntima obscuridade, que se dissolveu no decorrer de sua juventude. Curta e grossa, dizia em um "paratodos" o tudo que filosoficamente se dizia no literal. 
Suas emoções transbordavam, e com uma fluidez que muitas vezes trazia incompreensão e desgosto. Sua lista de antipatia era quase nenhuma, o que nem sempre condizia com o contrário . Mas tentava sempre desfazer os mal entendidos, traduzindo sucintamente sua alma, em palavras cruas e doces. E na amargura profunda de seus sentimentos, reluzia um chão de esperança e pavor. Passagens por entre as portas da razão eram escancaradas na sua mais alta nobreza de espirito, mesmo quando se tratando dos sentimentos mesquinhos ou aqueles cotidianos repetitivos  que ganhavam criatividade no caminho da maturidade.
Paixões efêmeras foi o que não faltou naquele ano transcorrido. E tanta amargura sentira e recebera, ante a correria dos relógios que contavam os segundos, que a impossibilidade de um amor duradouro era o que temia no fundo de sua consciência e solidão. E assim também corria seu coração a bater, por cada amor que preenchia os dias com ternura e raiva, emoção e desespero. E tanto, que no agudo de três corações a fez pausar, deitada na cama de seu pequeno quarto fora de casa, e agora ela, na sala de espera, quando quieta olhava para frente, quase totalmente vazia, estava tomada de orgulho e insegurança. E o vazio era tão grande que podia contar um milhão de estrelas no céu, mesmo sem saber porque fazia. E dizia sem nexo tudo o que um dia os outros disseram ser normal, aquilo tão natural como coçar o nariz.


sexta-feira, 1 de março de 2013

Pai

Sinto ligeira falta
dos verdes olhos dos quais não provim,
do sangue quente o qual não me ocorre,
mas está próximo por fios invisíveis,
pela qualidade intrínseca da afetividade.

Sinto em ligeira culpa
momentos distantes que assim fiz,
momentos gelados em pedra, mas quente em emoção.
Momentos em azul claro e vermelho cólera.
por não me gerar em ato, mas a pena e no coração.

Sinto ligeira saudade
dos devires criança em pura idade,
dos mistérios revestidos de fantasia,
de meu pai em explicita harmonia,
por caminhos certos em caracóis
e sonhos límpidos sobre os lençóis.

Sinto ligeiro medo
de não saber a totalidade do segredo,
como se obscuro buscasse no dedo
digitais minhas
apenas para saber se ainda existo,
ou se a vida é mesmo um sonho.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Romance

Saía de um camburão,
o homem com cabelo sujo,
quase em combustão.

Angelo estava na prisão
daquele delito delinquente
cometido no disfarçar do romance.

A chuva começou seis da tarde
e foi enchente até a encosta,
mas no delicado ser do encontro,
o brilho singelo do orvalho
era o que lhe aparecia no entanto.

Frente aos lábios túrgidos
aquela criança, perdida,
encostada na encosta
do muro dos desejos.

Ele, que olhava tão poeticamente
o cata-vento rodando,
agora encostava em seu cabelo,
de fios finos e soltos,
ao pulsar da vida.

domingo, 13 de janeiro de 2013

camisa de força

Quando nossos olhares se encontraram,
e o calor percorreu a espinha,
na paura insensata
daquele nó que não desata.

Quando palavras cruas e duras
me abriram os olhos da candura,
e disse inaudível:
que riscos tinham
os rabiscos dessa vida.

Em silêncio vibrei de medo,
de anfetamina,
da adrenalina que era
essa mina de ressentimento.

Olhei para os lados
mas éramos dois sóis,
sozinhos,
brilhando no escuro.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

arco-iris

Prometo poesia até o fim do dia,
disse ao patrão convicta.
Até o fim do dia, poesia.

Ateve-se ao que sentia,
e descabia a certeza,
mas embora triste, seguia.

O lindo balão lilás, começou,
que no céu pendia, preso,
perdurando o anseio.

Arrependeu-se do dia
em que flácida era a morbidez
do que dizia,
no céu de tanta poesia.

Cabia pânico, doçura e apreço.
Cabia mala, cortina ao avesso.
Cabia os pés nas mãos e tropeço.
Cabia de tudo um pouco e mais um terço.

Virou-se tonta e torta,
apagou a vela quase morta
e mesmo em veia torpe,
segurou sua mão em prece:

Glorioso dia que poesia,
dia que tudo cabia.
O dia em que sentia
o nada que tudo cabia.

O dia e a poesia.
oh dia que sentia,
oh dia que pendia,
no dia que se ia.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Fim

Esse é o fim do começo
é o fim do tropeço
não é o inicio do fim
mas o princípio do meio

Pele

Pelos poros respiro
pelos poréns admito
admiro e advenho

O calor que embala
no baile da epiderme
no epílogo do entardecer

transparente sonho,
respirando o poro
dos poréns ( e
da epiderme que tarde
esquenta os corações)

transparente sonho,
respirando o poro
dos poréns advindos

Singular reflexão,
reviu inerte e gritante
o eu te amo.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O Bósforo

Divisor de águas
dos mares e das manhãs

Divisor de tempos
culturas e religiões
avulsos
distintos continentes,
contingentes diferentes

Um estreito
estrito, respiro e respeito,
o Bósforo
estrito caminho de águas

O Bósforo,
tão distante
do que agora ilumina
o fósforo.