sábado, 1 de junho de 2013

Vida dupla- Relâmpago 3



Nina escreveu num pedaço de papel: " Em algum lugar, longe desses malditos ruídos e interpretações tão sem amor, iremos nos encontrar e mesmo que esse lugar seja o recôncavo mais remoto da imaginação ou a sensação mais dormente da memória irei estar contigo. E sonhar com consciência a ciência do amor, aonde não há lugar nem tempo, apenas a verdadeira face do que pulsa nos corações."
Desde que Nina havia se acomodado naquele quarto, uma enorme quantidade de repreensões fazia a si mesma. Apesar disso, era com determinação e covardia que se apegava as razões caducadas da infância.  Certamente havia muito mais o que descobrir. 
O céu estava estrelado e tinha uma enorme lua no céu. Flávio enviou uma mensagem longa, descrevendo cada detalhe do céu que via para Nina. Ele dizia que gostaria muito que ela estivesse com ele e que aquele céu que via era uma impressão exata do que sentia naquele momento melancólico e singelo, além de muito simples e claro, como estava ele, tão certo de seu amor e suas tristezas. "Que cara romântico", Maia disse, e Nina limitou-se a balançar leve sua cabeça e concordar. No fundo ela achava muito amor e pôde se ver através dele em seu momento exagerado meses antes. Eram dias em que tudo parecia grande e a enormidade da vida se pautava em uma só pessoa. E essa pessoa agora era ela, não soube o que responder e deu uma de terapeuta sem causa. Ou talvez tivesse muita razão para que ela fizesse ele voltar daquela paixão sem limites. Encarou a situação.
Voltou-se para ele e disse que se conheciam a pouco tempo e não tinham ainda tanto saber um do outro para gostarem-se dessa forma, o que de todo estava certa, e precisou de coragem para dizê-lo uma vez que haviam apostado fichas no casal. Nesse momento, Nina estabeleceu limite, e assim, preservando sua identidade seguiu com as aulas e os estudos e seus sonhos, que não eram poucos, mas dispersos e talvez pouco tangíveis com o que se dizia ser ela em tempos passados. 
Maia, como voz de sabedoria, achava que mudança era aos poucos, mas Nina sabia bem que para atingir de todo a forma com que gostaria de levar a vida precisava de saltos grandes e levantou firme revelando que para ela não havia duplicidade, mas cogitações e que seguindo seu coração não deveria ser interposta por ninguém querendo respostas falsas e definitivas.
Nina não conseguia aceitar que dissessem ser o amigo o namorado e o namorado o amigo, se não era namorado o seu grande amor queria viver a tristeza até o limite, até que seu coração voltasse a se interessar a luz da compreensão, e naquele momento, Nina não conseguia entender o que faziam com a vida dela e das tantas proibições que se davam sucintamente através de palavras atravessadas e fantasias especulares. 
A essência do discernimento constava em acertar cara e coroa, mas Nina sabia que o lado de dentro, dos seus batimentos, dos seus sentidos, abduzia sua vida a uma duplicidade sem sentido. O que era ela naquele momento, se não uma  profusão de verdades, uma invasão de pensamentos que exigiam e lutavam por distância. Não havia realidade se não que seu coração tinha um dono. E esse não era dono dela, mas do que sentia, do que queria e não tinha mais forças para lutar a favor. Queria viver mais do que tudo, e mesmo que o tempo demandasse espaço e o espaço demandasse tempo, o tempo trazia o vazio e o vazio trazia a paz do paraíso da qual era tirada constantemente pela incerta escolha do arbítrio. 
Quando chegou em casa depois da aula encontrou malas prontas na sala. Maia fazia os últimos acertos pelo telefone de como seria a viagem a Paris, combinava com o amigo que ficaria na casa dele depois seguiria para  o interior.  
Maia partiu e Nina ficou em casa sozinha. De seu quarto podia ver a tempestade. Um relâmpago no negro céu. Uma chuva grossa que abrandava as vezes, no intervalo das trovoadas. Os rugidos do céu, a fantástica aventura do planeta terra que se sucedia em tormentas. O grave barulho das nuvens carregadas e seguido de estouros, estrondos, instrumentos da natureza.


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