sexta-feira, 5 de julho de 2013

sinceras desculpas- relâmpago cap.4



Sinceras Desculpas

Mari desligou o telefone tendo acertando com Nina uma consulta com um psiquiatra que costumava atendê-la. Seu argumento foi baseado em uma conversa que as duas tinham tido em sua casa. Falou antes com sua mãe que era médica e que recomendou que ela como irmã de coração marcasse a  consulta para Nina. 
Chegando no consultório foi bem recebida e precisou esperar alguns minutos na sala de espera onde leu uma revista sobre comidas naturais que a interessou. O Dr. lhe pareceu um pouco frio, aflito, afoito e pouco experiente em atender a amiga da paciente. 
Ele lhe deu duas semanas para por a cabeça no lugar e contar toda a história de forma compreensível. Nina achou um tremendo absurdo ter que explicar a história sem saber do que estava sendo acusada. Tentou se lembrar dos últimos acontecimentos e se lembrou que havia contado o dia em que ficara bêbada numa festa. Não imaginava que isso pudesse causar tamanho problema, afinal tinha explicado a situação ruim que estava vivendo em casa com o fim de um relacionamento importante, e os amigos que tentavam ajuda-la e se diziam apaixonados ou exigiam hegemonia em seu coração. Ela precisava de um afastamento disso tudo e queria ficar lá na cidade onde Mari morava e sentiu no momento em que contou tudo isso que deveria dar um exemplo do que acontecia para o exílio em outro estado. Talvez tivesse perto demais de casa, pensou. E assim que o médico confirmou uma medicação que Nina não queria mais tomar tentou pensar em ir mais longe para outro lugar, mas não tinha coragem de seguir seu rumo sem avisos, principalmente pela sua dependência afetiva e financeira que naquele momento a impedia de ter autonomia. 
Nina entendeu que seu ciúme do namorado tinha ido longe demais e que não tinha razão para ainda afirmar o amor reciproco dos dois. Mas e ela? Ela estava sozinha e todos se preocupavam com ele, mas Nina ainda se sentia amada quando seguia seu caminho. A ambigüidade se instaurou de tal forma que ela não podia prosseguir. De um lado queriam ensiná-la a não sentir tanto ciúme, de outro não queriam deixá-la seguir um caminho deixando para trás relações afetivas que no presente existiam em memória. 
Certamente parecia que o caminho tinha a ver com ele, mas naquela altura tudo tinha mais a ver com ele do que com ela e não fazer o que quer e sonha era algo castrador. Nina sabia que   tudo aquilo também tinha a ver com ela e se não fosse seus ímpetos de movimentação nem ela nem ele iriam progredir. Pesava nos ombros dela a responsabilidade pela felicidade dos dois, juntos ou separados.
Sentia gratidão, mas seu corpo se cansava com facilidade ao perceber o tamanho do peso nas costas que carregava por não ter conseguido conviver harmoniosamente com o namorado e o mundo ao redor. Parecia sentir e entregar tudo a ele, enquanto seu vazio interior crescia. Nina queria pedir desculpa, mas achava que seus limites tinham passado da conta, tanto em seus pensamentos quanto no dos outros com relação a ela, e esse sistema ruim se retro-alimentava. Nina queria desaparecer. 
Sonhava com sua infância. Lembrava do dia em que seu primeiro dente da frente caiu. O dia era lindo e o dente trazia grandes esperanças. Sua mãe havia dito que a fada iria busca-lo debaixo do travesseiro. E foi assim que fez. Colocou o dente debaixo do travesseiro ao deitar e sonhou o sonho mais lindo que pode, como tentava fazer agora no transe de sua incapacidade momentânea. 

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