terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Batalha dos Rios


Menina levada, Silvia adorava subir em árvores. A cada tombo nova cicatriz era incorporada. Registrando aventuras. Mapas contando história.
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Certo dia, cansada de se machucar, Silvia resolve criar só uma vida dela sozinha. Se tornar uma marca, uma cicatriz na história. Mergulhou no rio vermelho que corria próximo a sua casa. Nadando, nadando, foi vivendo no aconchego do calor das águas avermelhadas.
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Em paralelo havia um segundo rio, onde calmamente brincava um menino branco. Silvio seu nome era. Cada um seguia seu caminho, e de tempos em tempos os dois podiam se ver. Os rápidos encontros ocorriam de quatro em quatro anos e alimentavam suas delicadas alminhas de tal forma que nem percebiam a tristeza de viver só, em uma cor.
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Num dia Certo, Silvia deparou-se com um rio vermelho como o dela. Sem pensar duas vezes misturou-se, cresceu em diagonalmente oposta. As águas voluptuosas de Silvia carinhosamente abraçaram o calor de novas águas ensolaradas e o rio mudou seu percurso.
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Silvio ficou só. Assustado com o desaparecimento de sua amada resolve dividir cada uma das suas micro-partículas. Quem sabe ganhando volume ele poderia rever Silvia. Então, todo o dia 29 de fevereiro, o branco rio crescia. Ele vigiava Ela.
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Até que uma imensa pedra surgiu no caminho do fluxo vermelho. Era pedra, teve assim de retornar ao curso antigo. Silvia perdeu-se por completo do sol que coloria com amarelo a superfície do rio formando uma espécie de crosta alaranjada.
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Foi numa noite escura. O rio branco de amargura vioô...lento lança-se sobre o vermelho iniciando uma batalha devastadora.
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             Sem mais nem porque Silvio recorda-se do amor que os levou ao inicio da guerra. Ela também estava errada, quando um não quer dois não brigam. Quieto ele fez-se gandhianamente embranquecido. Estava clara, é claro! A batalha era só de um lado.
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            Pouco a pouso o ódio avermelhado de Silvia passou a embaraço... De abraço em embaraço, vermelho e branco foi rosa virando. Tornando-se lembrança e consciência de grande pedra que era rocha dilatada, concentração de tempos no ritmo do nada. Mas parando tudo nada.
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Voltando a si, ainda rosados, Silvia e Silvio relembram seus tempos de criança. As brigas eram intermináveis. Juntos, infinitamente tentavam recordar o dia em que a batalha tornara-se real, rios riram. Ririam, logo rio.