segunda-feira, 1 de abril de 2013

relâmpago-cap 1





Sala de Espera

O momento presente abrangia tempos diversos. E quando se falava em desprezo, desespero e receio, era o desrespeito que atingia o orgasmo.
A rapidez do instante provocava as pequenas mortes das entranhas que não cabia tempo para elaborar seu discurso, como poréns das considerações passadas. Mas como ele continuava, ela não tinha a fluidez necessária para contar cada história, mas sim todas ao mesmo tempo como uma só.
Assim começou o outono que se passava anteriormente nos verões quentes do rio de janeiro. Enquanto a ordem seguia em desastrosos acontecimentos, os corações clamavam pela paz e condenavam a poucos. Aqueles que certamente sentiam muito e se torturavam em torturas adventícias.
Tanta nobreza visava retirar os porém, porque assim poderia desenvolver seu próprio estado, como modo de ser ou estado de espírito, mas como a vida requer equilíbrio o porém permanecia a falar-lhe ao ouvido. E a intrometer-se no que também lhe concernia.
Calava-se ante a ausência de sentido, e a angústia dos corações traumatizados significavam em prol da justiça. 

O tumulto crescia ante a repercussão das tragédias acometidas como sempre, e  pelo poder das palavras, sua força simulava uma  provocação inferida pela sugestão arredia do estar próximo.
Assim começava o texto:

"Trágico momento aquele, em que dizia sob pena de morte, a verdade que faltava ser revelada. Quando a torrente de ilusões me conduziu ao abandono de mim mesmo e cessaram as lágrimas que corriam em meu coração, entregando tudo a você, claramente, como o livro que lhe foi entregue aos quinze anos, comprado no mercado daquele vilarejo. E quando foste embora, fiquei sozinho, a preencher os vazios mórbidos da existência humana. Para que te acalmasse e segurasse firme em minhas mãos, estendidas e abertas a você, o anjo do coração, da retina e da pálpebra. Para que no obscuro, buscasse sua luz própria, a fim de regar o jardim da inocência.
Aclamaste a ti e ao senhor todo poderoso para que me protegestes, enquanto acordada sonhavas sozinha o que ainda penso de tudo e nós dois.
Porque ficaste tão triste, eu não sei ainda dizer, mas penso que tão voraz e sucintamente expressaste o pânico da sobrevivência. Não apenas nos dados fatídicos da emoção, mas do corpo todo, contornando cada delírio de febre que senti ao seu estar. 
Por isso, acalma-te e preste atenção. Quando vires o que é certo o teu coração dirá e sem necessitar palavra poderá falar-lhe ao coração."

Ele transcreveu a carta e guardou no bolso para eventuais desencontros. Desenrolou o papel naquele dia de outono, e sem anotar a punho no papel decorou o texto que havia em mãos.
Seria esta a base do discurso com a arrogância absoluta da veracidade de suas emoções pela jovem aluna, que sentada na sala de espera reencontrava outros alunos da escola que passavam pelo corredor contentes e descontentes com seus resultados. E no auge de sua atuação romântica e delinqüente transmitia sua mais secreta intimidade e ganância.    
Nina retratava a languidez de uma íntima obscuridade, que se dissolveu no decorrer de sua juventude. Curta e grossa, dizia em um "paratodos" o tudo que filosoficamente se dizia no literal. 
Suas emoções transbordavam, e com uma fluidez que muitas vezes trazia incompreensão e desgosto. Sua lista de antipatia era quase nenhuma, o que nem sempre condizia com o contrário . Mas tentava sempre desfazer os mal entendidos, traduzindo sucintamente sua alma, em palavras cruas e doces. E na amargura profunda de seus sentimentos, reluzia um chão de esperança e pavor. Passagens por entre as portas da razão eram escancaradas na sua mais alta nobreza de espirito, mesmo quando se tratando dos sentimentos mesquinhos ou aqueles cotidianos repetitivos  que ganhavam criatividade no caminho da maturidade.
Paixões efêmeras foi o que não faltou naquele ano transcorrido. E tanta amargura sentira e recebera, ante a correria dos relógios que contavam os segundos, que a impossibilidade de um amor duradouro era o que temia no fundo de sua consciência e solidão. E assim também corria seu coração a bater, por cada amor que preenchia os dias com ternura e raiva, emoção e desespero. E tanto, que no agudo de três corações a fez pausar, deitada na cama de seu pequeno quarto fora de casa, e agora ela, na sala de espera, quando quieta olhava para frente, quase totalmente vazia, estava tomada de orgulho e insegurança. E o vazio era tão grande que podia contar um milhão de estrelas no céu, mesmo sem saber porque fazia. E dizia sem nexo tudo o que um dia os outros disseram ser normal, aquilo tão natural como coçar o nariz.


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